segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Historia de uma flor.


Ela quase já não dorme. Não que o sono lhe falte. O que lhe falta é a vontade de se despreender da terra. Se pudesse, só tirava os pés do chão quando na roda-gigante, porque ali é tão bonito ver os pés no céu quando se está de cabeça para baixo. Mas por aqui não há muitas rodas-gigantes. Mas há tanto ainda para descobrir que quase não sente falta. Caminha muitas vezes sem querer olhar para trás. É que dói demais ver os restos de tudo que vão ficando pelo caminho. Se pudesse, levaria tudo consigo para nunca mais ter que dizer adeus. É que dói demais dizer adeus. Ela está tão cansada. Tem vontade de voar nos livros para todos os lugares que povoam seus sonhos. Tantas línguas bonitas para aprender. Ah, ela tem tantos sonhos! Quase sempre sonha acordada, mas isso quase ninguém vê. Só aqueles que sabem que, em segredo, ela voa por aí. Mas isso é segredo. Ou pelo menos era pra ser. Na verdade, ela espera. O quê, acho que nem ela sabe dizer. Mas espera. Espera com fé e uma esperança sem tamanho. Como se espera uma fruta verde no pé amadurecer. Espera a hora certa de tudo acontecer. Não quer ver outras estradas, não quer outros caminhos, não quer outro lugar. É aqui que ela quer ficar. E ninguém sabe o porquê. E assim, quando ninguém entende e ninguém vê, é que de repente nasce uma flor. Em silêncio. Deixem-na florescer.

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